Mistério em Chalk Hill

Título: Mistério em Chalk Hill
Título Original: Der Verbotene Fluss
Autora: Susanne Goga
Editora: Jangada
Ano: 2017
Páginas: 424
Tradução: Karina Jannini
Livro: Skoob
Sinopse:

Em 1890, depois de um escândalo que afetou sua reputação, Charlotte Pauly deixa Berlim e vai lecionar para a pequena Emily, em Chalk Hill, uma mansão vitoriana nos arredores de Londres. Charlotte logo percebe uma estranha atmosfera na antiga casa. A menina de 8 anos é sempre atormentada por pesadelos e visões fantasmagóricas da mãe, que se afogou no rio da propriedade em circunstâncias misteriosas. Quando Charlotte tenta saber a respeito da morte de Lady Ellen, o pai de Emily, Sir Andrew, reage com hostilidade. Com tudo envolto em um grande mistério, somente com a ajuda de Tom Ashdown, um jornalista londrino designado para investigar o caso, é que Charlotte poderá verificar o que há por trás dos fenômenos sobrenaturais que assolam a mansão e descobrir uma trágica verdade escondida nas paredes de Chalk Hill...

Charlotte Pauly precisava escapar de Berlim. Precisava se afastar da sua terra natal, o local onde se deu o escândalo que manchou sua reputação. Temia que não conseguisse mais um emprego como preceptora, mas a sorte sorriu para ela, quando o Sir Andrew a chama para lecionar para sua filha, Emily. Charlotte imaginava que o trabalho seria árduo, já que Emily havia perdido a mãe há poucos meses, mas certamente ela não esperava encontrar o mistério que cercava Chalk Hill.

A família mora na Inglaterra, e é exatamente o tipo de alívio e distância que Charlotte precisava. Ao chegar na estação de trem, Charlotte é obrigada a fazer uma pausa em Dover por conta de um acidente que ocorreu mais a frente, impedindo que o trem seguisse caminho. Charlotte consegue encontrar uma hospedagem próxima, mas as coisas já começam a ficar estranhas quando ela se depara com a dona do local realizando sessões espíritas a noite. Talvez para os ingleses esse fosse um hábito comum, mas certamente não para ela, que já inicia a trajetória se questionando onde foi se meter.

Charlotte respirou fundo e endireitou a postura, mantendo o rosto ao vento. Um novo país, um novo começo. Uma aventura.

Ao prosseguir viagem no dia seguinte, o cocheiro, muito simpático, a busca na estação de trem e vai lhe apresentando as florestas e rios que aparecem no caminho. Na casa, ela é recebida pela governanta e pela criada, que logo a conduzem ao seu quarto no alto da torre, onde antigamente era o quarto de jovem de Lady Ellen, mãe falecida de Emily.

Sir Andrew é um homem educado, mas nem um pouco caloroso. Ele é recluso e às vezes se mostra uma pessoa fria nas poucas vezes em que é encontrado na residência. Sendo deputado, suas viagens a Londres são rotineiras e pouco tempo disponível tem para a filha, que carece de sua atenção.

Emily é uma garotinha esperta, inteligente e fácil de simpatizar. As duas logo de início se dão bem, e as aulas são prazerosas, uma vez que Emily se mostra uma aluna dedicada e interessada. Quando as aulas do dia acabam, Charlotte leva a menina para passear pelo jardim e pela cidade, de modo que passa a conhecer mais de suas tradições e das pessoas que residem na cidade há anos.

Não demora para que Charlotte se dê conta que todos conhecem Emily e a trágica história de sua família. E é justamente esse fator que a irrita. Ninguém da casa se preocupou em lhe informar os detalhes, além de que Emily até poucos anos atrás tinha uma saúde frágil e por isso vivia doente. Foi somente através dos moradores locais que ela descobriu que a mãe de Emily morreu afogada num rio próximo à casa. Seu xale foi encontrado na área, mas não seu corpo.

De repente, ficou em dúvida quanto a seus próprios motivos para fazer investigações, e essa experiência não era nem um pouco agradável. Estava ali sobretudo para dar aulas a Emily; esta era sua principal tarefa. No entanto, sabia que a menina estava sofrendo e que, por trás de seu sofrimento, escondia-se não apenas a tristeza compreensível pela morte da mãe, mas também algo obscuro, que ela não sabia o que era. Ainda não.

Emily tem pesadelos noturnos frequentes. Quase toda noite Charlotte acorda com seus gritos e corre para acalmar a garota. E em todas as vezes, Emily relata algum sonho relacionado à mãe. O pai se preocupa, mas acredita que os sonhos se dão apenas pela falta que ela sente da mãe.

Até que a situação piora. Charlotte encontra a janela do quarto de Emily aberta por duas vezes durante a noite e uma poça de água ao lado da cama. Escuta passos próximos à porta de seu quarto. Se depara com Emily paralisada diante à janela, dizendo que está à espera de sua mãe.

O caso de Emily se agrava. Ela não adoece mais fisicamente, mas todos chegam a conclusão de que ela sofre algum mal espiritual. Ela diz ver e escutar a mãe. Emily se mostra cada vez mais arredia e com medo. Diz que a mãe está voltando para buscá-la.

Depois da conversa com Sir Andrew, passara a noite se revirando com inquietação na cama, sempre vendo o rosto de Emily diante de si - os olhos arregalados, os cabelos desgrenhados, o olhar fixo em alguma coisa que ninguém além dela conseguia enxergar.

Charlotte por sua vez não consegue ficar parada sem fazer nada para ajudar a garotinha por quem se afeiçoou tanto. Já que o patrão não lhe dá respostas, e o nome de Ellen ser tocado na casa é quase um tabu, ela vai fazer suas investigações pela cidade. Encontra os moradores com quem fez amizade, questiona sobre Elen, e descobre muitas coisas que a assombram.

Sir Andrew pede auxílio ao médico de Emily, mas ele diz que não há nada que possa ser feito. Ainda assim, ele entrega a Sir Andrew um cartão dos cientistas que pesquisam o paranormal. Que escolha além dessa ele tinha, por mais absurda que fosse?

- Durante a noite, acontecem coisas nesta casa que desafiam qualquer descrição.

Sir Andrew entra em contato com os cientistas, que designam Tom Ashdown para solucionar o caso. Tom percebe que Sir Andrew se mostra resignado a lhe entregar todas as informações, então ele se aproxima da preceptora, que enfim encontra um aliado em toda aquela situação maluca.

Mas será que Emily está mesmo sendo perseguida por espíritos? Será que o causador do tormento pode ser de alguma forma mortal? Seria Ellen feliz em seu casamento? Quais são, afinal, os segredos profundos que Chalk Hill esconde?



Desde que eu vi a capa e a sinopse do livro nos lançamentos do Grupo Editorial Pensamento, eu soube que iria adorar a história, e não me enganei.

Mistério em Chalk Hill é realmente um mistério muito bem articulado, que se mantêm presente do início ao fim. A autora consegue aguçar a nossa curiosidade e faz o leitor se questionar várias vezes quanto ao sobrenatural e quanto às pessoas que vivem na casa. Existem espíritos, afinal? Emily estaria de fato vendo sua mãe? Estaria ela correndo perigo? Qual outra resposta seria concebível se não essa?

Os moradores da casa também são distantes e, embora vissem o que ocorria entre o casal, preferiam fingir que não viam. Nora, a babá de Emily, parece ser a que mais foge das perguntas de Charlotte. O que de tão cruel ela poderia saber para não querer compartilhar?

A história se passa em 1890. Se romances de época são bons, imagine um terror de época, onde o paranormal era algo pouco pesquisado e levado a sério. Se temos de fato terror na história? Temos, sim. Algumas cenas assustam, principalmente as que envolvem a criança, mas não acho que seja algo que te impede de dormir a noite depois, a não ser que você seja muito sensível ao gênero da obra.

Charlotte foi uma protagonista excelente. Corajosa e determinada, ela levou sua investigação até o fim, mesmo temendo que fosse demitida caso o patrão descobrisse que ela andava perguntando sobre sua família pelos arredores. Sua preocupação era com Emily e nunca deixou de ser. Honestamente, não sei o que teria sido da casa sem ela naquele momento em especial.

Desde o início, pairava uma sombra sobre a casa na Crabtree Lane. Nesse meio-tempo, já tinha dado para perceber que se tratava mais do que o luto habitual por uma pessoa falecida; que haviam acontecido e ainda aconteciam coisas que sua razão não podia explicar.

O livro é narrado em terceira pessoa e temos dois pontos de vista. O principal é o de Charlotte, mas temos também o de Tom, um jornalista que perdera sua esposa há poucos anos e começava a se dedicar, junto aos cientistas, em tirar a máscara dos charlatões que diziam conseguir evocar espíritos. Um personagem sarcástico e muito bem construído.

Sir Andew me deu nos nervos na maior parte do tempo. Um pai distante, que mal se via abraçando a filha. Enquanto ele dormia em paz, eram Charlotte, Tom e Nora que estavam sempre prontos para proteger Emily. Acho que ele se preocupava com a filha, sim, mas não o bastante. Quem teve que botar a mão na massa mesmo foram os outros. Por isso, odiei a atitude que ele tomou no final. Considerei de extremo egoísmo e de consideração 0 por tudo que Charlotte fez pela filha dele.

A escrita de Susane é sensacional. Nem um pouco pesada, mas com palavras refinadas e bem colocadas. Embora a obra possua 400 páginas, eu o devorei em um dia de tão curiosa que fiquei para desvendar o caso. Em determinado momento, as respostas se tornaram previsíveis, mas gostei muito da capacidade da autora de manter o mistério vivo pela grande parte do livro.

A editora Jangada está mais uma vez de parabéns pela edição. A combinação de cores da capa é perfeita, assim como as frases de impacto escolhidas que fazem total jus à história. A capa representa Charlotte chegando à casa, prestes a descobrir todos os seus mistérios, assim como nós leitores, e a neblina por trás já indica que ela não encontrará coisas boas.

O livro cedido em parceria também veio com um marcador, onde no verso está escrito "Pesadelos e visões de uma morte misteriosa". Na contra-capa do livro, há uma frase que não poderia descrever melhor a obra: Mistério em Chalk Hill mescla, numa atmosfera única, elementos do romance Jane Eyre, de Charlotte Bronte; o mundo da aristocracia da série britânica Downton Abbey e o suspense sobrenatural do filme Os Inocentes, baseado na obra A Volta do Parafuso, de Henry James.

Um detalhe interessante é que nas páginas finais a autora coloca imagens de Londres que são citados nas páginas do livro. Adorei que ela proporcione uma ambientação melhor ao leitor, o que significa que ela se inspirou em locais reais para dar vida às cenas.



Resumindo, Mistério em Chalk Hill é um mistério que vai te chocar, levantar dúvidas e querer sair correndo de Chalk Hill e de seu passado sombrio.

Nota: 5


Sobre mim: Carolina Rodrigues, 22 anos, biomédica e autora do livro O Poder da Vingança. Adora dançar e ir pra praia, mas o que a faz realmente feliz é poder passar um dia inteiro lendo, vendo séries, escrevendo histórias ou ouvindo música.

You May Also Like

0 Veja quantos dragões pousaram aqui!